“O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, está a dar a sensação clara de governar somente para ele e seus próximos”, desabafou ao F8, um número incalculável de cidadãos desalojados das suas residências nos Zangos I, II, III e 4, que acorreram hoje ao Governo da Província de Luanda para exigir a reparação dos danos.
Por António Zacarias
Os referidos autóctones que viram suas residências deitadas abaixo por homens e máquinas, desceram à baixa da capital logo às primeiras horas da manhã, mantiveram-se frente ao Governo da Província de Luanda, como forma de pressionar o governador, Higino Carneiro, a tomar uma posição. Mas foram alegadamente menosprezados.
Então desesperados, alguns deles tencionavam pernoitar no local, mas, de forma subtil, foram repelidos pelos operativos da Polícia Nacional.
Contudo, as vítimas garantem que não irão abdicar de seus direitos e prometeram mesmo, caso não sejam satisfeitas as suas exigências pela administração municipal de Viana, regressar ao Governo Provincial com cobertores, esteiras, colchões e fogareiros para quotidianamente pernoitarem frente ao Palácio da Mutamba, até verem seus direitos observados.
“O Presidente da República tem casa, os filhos dele têm casa, os membros auxiliares do executivo dele e filhos destes, todos têm casas, porquê demolirem as nossas casas? Sou pobre, fiz um esforço danado para conseguir um milhão e oitocentos mil Kwanzas (KZ1.800.000) para comprar a casa. Hoje eles (Governo) partem? E o ridículo é o administrador municipal e o comandante municipal da Polícia alegarem não terem conhecimento do sucedido”, lamentou a jovem Mara, acrescentando, que, “não é preciso ir à escola para saber que não é dessa forma que se governa um povo”, referiu.
“Se existe um povo no mundo que não merece passar por isso, é o angolano. Não exige nada, não cria rebelião, é exageradamente pacífico, o MPLA e o Presidente irão de arrepender-se um dia destes”, previu outro interlocutor.
Algumas mulheres violadas
Segundo as vítimas do braço demolidor do Governo sustentado pelo MPLA desde 1975, as destruições das moradias iniciou-se (pois continuam) no dia 30.07.16, cerca das 03h:25 minutos. O momento foi “deveras” de terror, a zona foi invadida por centenas de militares que não se coibiram em “violar mulheres, roubar dinheiro e garrafas de gás butano”.
“E não foi só isso. Havia um helicóptero da Polícia Nacional que sobrevoava a zona, realizando vários disparos atrás da população em debandada”, contou Minguito.
No entanto, os munícipes alegam terem comprado as casas à construtora Fobes, mas que nunca foram notificados ou avisados de forma informal de que a zona era reserva da Zona Económica Especial (ZEE).
“Fizemos um bom negócio: há casas que a Fobes comercializa a dois ou três milhões de kwanzas, mas caso pagasses 45 ou 50% do valor, a Fobes entregava a chave, e as pessoas eram livres de realizar alterações na residência”, contou, adicionando, que, “se tivéssemos um governo patriótico não estaríamos nesta situação agora”.
“A Fobes recebeu os terrenos das mãos das camponesas, e em contrapartida, após construir as casas, a empresa cedia algumas residências a estas senhoras que de seguida também as comercializavam, então pergunto: o Estado, através das administrações de bairro, comunais e municipais não sabia deste negócio? Porque nos deixarem gastar dinheirões e de seguida partirem as nossas casas? Infelizmente há um jovem que comprou a casa na sexta-feira e no sábado a moradia foi demolida, isso é triste”, lamentou.
Eu tenho vergonha de ser angolano. Essa vergonha cresce a cada dia que vejo as atrocidades que o governo do país em que nasci pratica contra a população. Sinto-me vergonha de reproduzir informações como essas, pois somos recorrentes no “vitimismo”. Quando os meus colegas da faculdade de Direito e ou o meu Tutor do Mestrado em Sociologia Política abordam a situação de Angola numa aula em que é preciso criticar o sistema político brasileiro e as mazelas sociais do país deles, todos ficam horrorizados com o nível de miséria que Angola, país cheio de riquezas, se apresenta ao mundo. As injustiças sociais em Angola superaram todos os ditames da minha consciência. Eu me envergonho de Angola. Desculpem mesmo. Até a minha filha de 7 anos já sabe que vivíamos entre os ratos e baratas, que tudo é lixo e poeira, que não tem comida boa nem água potável. Acho que é hora de esquecer de vez Angola e aceitar que o destino me trouxe a esse país que me acolheu para me naturalizar e desenvolver a minha vida política entre seres humanos civilizados, e nunca mais voltar ao convívio de criaturas pré histórias que devoram-se umas às outras. Tenho dito.